"Quando escutar é diagnóstico e intervenção. A vida segue porque é assim que funciona. Não entendi ainda se temos um objetivo, se estamos numa grande gincana, se temos senhores que nos observam e/ ou nos comandam. Fato é que vamos seguindo ora escolhendo ora sendo escolhidas. Tem dias e momentos que sentimos segurança de ser e noutros percebemos que fizemos e agimos exatamente como uma convenção social muito maior e mais poderosa que nós, desejou. Penso que a maternidade seja um dos pontos onde os controles escapam, os “deles” e os nossos. Parir nos joga de cara com a força e o descontrole de nosso próprio corpo. Em muitas experiências sequer precisamos da consciência ou de explicações e lógica para atravessar o parto. Inclusive em alguns momentos isso pode impedir um nascimento. Há uma sabedoria ancestral dentro do gestar, do parir, do maternar. Talvez um descontrole ancestral que permite olharmos pela fresta, enxergar além da nossa própria existência. E o corpo traz memórias e dores e saberes. E grita quando procuramos um silêncio. De tudo que podemos viver fica uma sensação de que ainda temos caminho e uma saudade que sequer conseguimos nomear. Entendo a assistência perinatal como uma dessas trilhas que seguimos na vida. Nem sempre se tem conhecimento, autonomia e controle para ações e muitas vezes o que mais poderá impactar, de forma positiva, é a escuta atenta e acolhedora. No mundo atual, rápido e conduzido por reuniões em telas e com necessidades de inovações constantes; gestar e parir nos deixa numa lentidão, num contrafluxo do que nos rodeia. E lidar com as mudanças físicas, metabólicas e psíquicas pode ser bastante desafiador. Então pensar em escuta empática e sem julgamentos é sim ferramenta de acolhida e de liberdade para ser. Além disso a partir dos diálogos abrimos possibilidades para ações e intervenções dentro de um respeito a autonomia e alicerçada em informação. Assim é possível estabelecer possibilidades de sermos apoio com técnica, embasadas em evidências científicas e de modo humanista. Nem sempre é o que falamos ou ouvimos, pode ser o que se cala e nesse ponto é preciso estar em consonância e ressonância para alcançar o que precisa ser dito e visto. Esta formação em Psicologia da Gravidez, Parto e Puerpério; nos aproxima da escuta atenta e sensível que pode impactar positivamente todas as mulheres que estejam no ciclo gravídico e puerperal. E nos prepara de forma integral e bastante técnica para situações desde as mais corriqueiras e simples até as mais graves e adversas." Com carinho,